A Central Solar Fotovoltaica de Monte Trigo completou 7 anos de serviço em Fevereiro com mais de 250 MWh produzidos.

Ilha de Santo Antão, 28 de Fevereiro de 2019 |

No mês fevereiro assinala-se o sétimo aniversário em que Monte Trigo converte-se a primeira aldeia de Cabo Verde com energia 100% renovável com operacionalização da micro rede e a uma Central Solar fotovoltaica de Monte Trigo de 39.7 kWp.

O entendimento da particularidade desta iniciativa não pode ser dissociado do contexto geoclimático da Aldeia de Monte Trigo e do momento que foi implementado o projeto. A Aldeia de Monte Trigo é uma aldeia litoral do Município do Porto Novo, situada no sudoeste da Ilha de Santo Antão, encravada pela montanha Topo de Coroa e pelo mar. É uma das localidades mais isoladas e afastadas de Cabo Verde; o único meio de acesso à localidade é por via marítima, mediante pequenas embarcações de pesca ou por caminhada de mais de três horas da aldeia mais próxima, Tarrafal de Monte Trigo.

A iniciativa desafiou todos os argumentos de viabilidade económica e técnica dos projetos, devido à sua localização e sua pequenez, priorizando o desenvolvimento e luta contra a pobreza, mediante a concretização do direito ao acesso à energia, numa das localidades mais remota de Cabo Verde.  A localidade carateriza-se por dupla insularidade, por estar localizado numa das ilhas do país sem aeroporto e cujo a mobilidade para outras ilhas ocorre somente por via marítima e por fragmentação territorial, devido à sua localização no âmbito da ilha e seu entorno geoclimático.

A localidade tem uma população de 274 habitantes (censo 2010) sendo 152 do sexo masculino e 122 do sexo feminino. Dos 57 agregados familiares existentes, 70% são chefiados por homens. A população ativa, é representada por 126 cidadãos, sendo 85 homens e 40 mulheres. Embora não haja dados oficiais relativamente ao índice de empregabilidade, existem alguns factos que devem constar e ser destacados da presente descrição, nomeadamente, que somente 4 das mulheres ativas mantêm um emprego estável e fixo. As restantes mulheres trabalham em média duas semanas ao ano, dependendo das obras públicas a serem realizadas na aldeia. A maioria dos homens em idade ativa, trabalham no sector das pescas e/ou atividades auxiliares.

Os rendimentos das famílias, maioritariamente, dependem do sector das pescas, apesar de neste momento existir um potencial enorme no sector do ecoturismo, que dependerá do aprovisionamento de equipamentos, serviços e recursos, destacando neste contexto, a maior disponibilidade energia como uma das condições basilares.

Monte Trigo, está localizada na zona tampão ou adjuvante do Parque Natural de Topo de Coroa. A população de Monte Trigo, igualmente, vive de muitos dos recursos produzidos pelo Parque Natural de Topo de Coroa, nomeadamente derivadas de atividades como agricultura, pastoreio e ecoturismo. A comunidade intervém de forma direta na gestão dos recursos existentes nesta área protegida.

A Água que abastece a localidade é um dos recursos fornecidos igualmente pelo Parque Natural de Topo de Coroa. A nível climático, Monte Trigo, à semelhança do restante do Município do Porto Novo, tem clima seco e árido com precipitações irregulares e mais escassas que a nível nacional. Nos últimos anos têm-se registado a ocorrência de um período severo de seca. Destaca-se que as mulheres são maioritárias na gestão dos recursos ambientais, tendo em conta que são elas que praticam agricultura de subsistência, e neste período de seca extrema são as mais expostas aos seus impactos nefastos, sobretudo na segurança alimentar da família. 

Neste contexto, é que foi desenvolvido o projeto intitulado SESAM-ER – “Serviço elétrico sustentável para zonas isoladas mediante Micro-redes com Energias Renováveis” que converteu a Aldeia Monte Trigo, na primeira de Cabo Verde 100% com energia limpa.

A comunidade hoje beneficia de uma Central fotovoltaica com a capacidade de 37,9 Kwp, fruto de um projeto de desenvolvimento cofinanciada pela União Europeia e Câmara Municipal do Porto Novo (CMPN) e executada por um consórcio de empresas liderado pela empresa Águas de Ponta Preta, Lda (APP). A gestão atual é da responsabilidade de uma parceria público privado que integra a APP,LDA, Câmara Municipal do Porto Novo e AGRIPESCA, no âmbito de um acordo tripartido.

A atual central fotovoltaica, após de sete anos de funcionamento ininterrupto e 24/24 horas, provocou uma nova dinâmica de desenvolvimento na comunidade Montetriguense em vários níveis, sociofamiliar, ambiental e económico. A Central Fotovoltaica foi projetada para o contexto próprio da Aldeia de há sete anos, ou seja, satisfazer maioritariamente as necessidades energéticas domésticas e dos serviços básicos. Atualmente, com a disponibilidade energia 24/24 h e com o trabalho de requalificação das casas da comunidade, Monte Trigo entrou na rota do Turismo Rural ou ecoturismo, criando assim uma nova dinâmica económica, nomeadamente, de acolhimento de turistas (serviços de hospedagem e alimentação). Este crescimento se verifica pelo aumento de estabelecimentos comerciais abertos e aumento de quartos e camas disponíveis aos turistas.

Igualmente a disponibilidade da energia 24/24 h teve um efeito contagiante na principal atividade comunitária, as pescas. A comunidade, a nível coletivo e individual, tem adquirindo um conjunto de equipamentos pescas, nomeadamente embarcações, no sentido de melhorar a produção haliêutica. Com o aumento da produção haliêutica, se acentuaram os problemas relacionados com a gestão dos recursos do mar, em especial, na fase de pós-captura. Verifica-se uma diminuição geral das perdas de pescado.  A comunidade tem uma casa de gelo que funciona somente com o excedente de produção energética da Central de Fotovoltaica.

Após sete anos de acesso a energia solar fotovoltaica, 24h/24h em Monte Trigo, o principal aprendizado do projeto SESAM-ER é a consciencialização que acesso à energia é um dos principais motores de desenvolvimento da atualidade. O acesso à energia reduziu várias formas de exclusão na localidade de Monte Trigo, encurtando a disparidade regional, afrontando o isolamento e a descontinuidade territorial, retraindo os efeitos da seca e da insegurança alimentar e sobretudo criando novas oportunidades de emprego e iniciativa privada.

A elevação da qualidade de vida na comunidade após sete anos é inquestionável e é visível no âmbito do aumento de postos de trabalho, amenização dos trabalhos domésticos, integração da comunidade na rota do turismo rural e de natureza, maior segurança e previsibilidade no desempenho da atividade das pescas. Após sete anos, um cidadão de Monte Trigo, pode armazenar os seus alimentos de forma duradoura, planificar a economia doméstica, comunicar de forma contínua através dos meios de telecomunicações e igualmente criar as suas próprias iniciativas privadas. Após sete anos, esta dinâmica de crescimento económico local refletiu na demanda energética, hoje bastante superior daquela projetada pela Central Solar fotovoltaica de Monte Trigo.

Dados cumulativos (fevereiro 2012 a janeiro de 2019):